PÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO EM VEZ DE CANHÕES
Nesta falsa pedagogia da guerra, dizem-nos que a Europa precisa de se defender, de dissuadir ameaças, a chamada Paz pela força, que tem conduzido à escalada militar, à imposição da lei do mais forte e à violação do direito internacional.
Entre investir em manteiga ou canhões, a Comissão Europeia (CE) já decidiu que o caminho é gastar em armas porque, dizem-nos, é necessário proteger a manteiga que a Europa, fruto das suas políticas, deixou cada vez mais de produzir.
Aos gritos de “às armas, às armas”, vale tudo para tentar enganar incautos. Nesta falsa pedagogia da guerra, dizem-nos que a Europa precisa de se defender, de dissuadir ameaças, a chamada Paz pela força, que só tem conduzido à escalada militar, à imposição da lei do mais forte e à violação do direito internacional.
É o perigo e o medo russo, e o medo é sempre um bom investimento para os “senhores da guerra”, explorado ao limite da estupidez pelo chefe da NATO, esse instrumento de guerra e não de Paz. O holandês Mark Rutte afirmou que “ou os países decidem agora gastar mais, ou começam a aprender a falar russo, ou vão para a Nova Zelândia”, sintetizando a histeria de uma liderança europeia “atarantada” com o regresso de Trump aos comandos do “império”, e ao mesmo tempo inebriada com a perspectiva de uma falsa saída para a crise, assim como dos milhões de lucros que irão parar aos bolsos dos capitalistas que serve.
DESTRUIR DIREITOS E CONQUISTAS SOCIAIS
É neste quadro que a CE, a mesma que apoia o genocídio levado a cabo por Israel na Palestina (tal como os EUA, e aqui estão ambos de acordo), prepara-se para investir 800 mil milhões de euros em armamento, dando mais um passo numa corrida em que a Europa, é bom lembrar, há muito que está envolvida.
Nesse sentido, a CE avança com três eixos: 150 mil milhões em empréstimos aos Estados que pretendam investir em mísseis, munições, sistemas de defesa aérea, drones ou outros equipamentos militares; abrir a possibilidade de que os países gastem mais do que aquilo que seria permitido pelas regras orçamentais, desde que o façam em armamento, propondo que este tipo de despesa seja excluído do cálculo do défice de cada país, até que os novos gastos atinjam 1,5% do PIB respectivo, o que permitiria aumentar a despesa militar total em 650 mil milhões; permitir que parte dos fundos estruturais destinados a promover a coesão e o desenvolvimento regional vão para a indústria militar.
Ou seja, se for para gastar em armamento, que se “lixem” as restrições orçamentais. Restrições são para a Saúde, Educação, Habitação, a protecção social, salários e pensões. E quem beneficiará? Em primeiro lugar, o complexo industrial militar norte-americano, e, na Europa, um pequeno número de grandes empresas, concentradas na Alemanha, França, Espanha e Itália, a que se junta o Reino Unido.
Por cá, Luís Montenegro já disse que “os próximos anos serão de acréscimo de investimento em segurança e defesa (…)”. Ou seja: não há dinheiro para recuperar o poder de compra dos funcionários públicos ou reforçar o investimento público, mas não faltará para armas e canhões, enquanto seguem mais 300 milhões para a Ucrânia.
Portugal já gasta 1,55% do seu PIB em defesa, e assumiu que, até 2029, atingiria 2%, cerca de 6 mil milhões de euros (M€)! Com a proposta da CE, passaria a gastar, pelo menos, mais 4,5 mil M€, uma soma superior a 10 mil M€ ou 3,5% do PIB. E se formos obrigados a cumprir a “meta” exigida por Trump, teremos de gastar 5% do PIB (perto de 15 mil M€), o equivalente à despesa com o Serviço Nacional de Saúde.
INVESTIR NA “MÁQUINA” DA PAZ
Da austeridade ao militarismo, tudo se encaminha para destruir direitos e conquistas, provocando mais angústia, desespero e falta de perspectiva de futuro de que se alimenta a extrema-direita. Mas isso é o que menos preocupa a elite europeia, como não é a autonomia da Europa, a nossa segurança, o nosso “modo de vida”, seja lá o que isso for, mas sim a manutenção dos grandes interesses e dos lucros sobre a dignidade dos trabalhadores e dos povos.
Diante dos enormes perigos com que estamos confrontados, o futuro da Humanidade depende do investimento na “máquina da Paz”, não na da guerra, como afirmou, recentemente, o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Esse caminho implica construir soluções que conduzam ao desarmamento, rejeitar e combater estas políticas e os seus protagonistas, reforçar a luta e o movimento pela Paz, e exigir que o dinheiro seja investido em pão, saúde, habitação, educação e ambiente. É isto que gera a Paz. A manteiga e não os canhões que Trump nos quer impingir, e que as lideranças europeias, vassalos despeitados, lhe querem comprar.